O que aconteceu com a Level Up, a icônica distribuidora de jogos dos anos 2000 no Brasil?

A trajetória da Level Up: da ascensão à reinvenção

Nos anos 2000, a Level Up Games abriu as portas do universo dos jogos online para milhares de brasileiros. Para muitos jogadores, a empresa deixou uma marca indelével na memória afetiva, embora hoje sua presença não seja tão expressiva como no passado. Ainda ativa no Brasil e na América Latina, a empresa passou por diversas transformações ao longo dos anos.

Origem e chegada ao Brasil

A Level Up surgiu nas Filipinas em 2002, com o propósito de distribuir e localizar jogos para o público local. Seu primeiro grande sucesso foi o MMORPG Ragnarök Online. Em 2004, a empresa desembarcou no Brasil, trazendo o jogo totalmente traduzido e adaptado à moeda nacional. Segundo Gláucio Marques, CEO da companhia, a Level Up tinha como missão democratizar o acesso aos jogos online e oferecer entretenimento acessível ao público brasileiro.

Desafios e estratégias de crescimento

Na época, um dos principais desafios era a limitação do acesso à internet e a baixa popularização dos computadores domésticos. Para superar essa barreira, a Level Up investiu em parcerias com LAN houses, chegando a credenciar mais de 10 mil estabelecimentos que comercializavam seus jogos e créditos. Além disso, a empresa apostou em campanhas publicitárias e colaborações com grandes marcas, como a Nestlé e a Blockbuster, ampliando sua visibilidade.

Outro diferencial foi o lançamento da revista oficial da Level Up em 2006, que além de conteúdos exclusivos, trazia CDs de instalação de jogos. Isso facilitava o acesso ao público que não conseguia fazer downloads em casa devido à internet limitada.

Expansão do catálogo de jogos

Com uma forte presença no mercado, a Level Up expandiu seu portfólio, trazendo títulos icônicos como Grand Chase (2006), GunZ: The Duel (2007), Perfect World (2008), Combat Arms (2010) e Warface (2013). Muitos desses jogos marcaram época e conquistaram uma legião de fãs, consolidando a Level Up como uma das principais distribuidoras de jogos no Brasil.

Modelos de monetização e adaptação ao mercado

Nos anos 2000, os modelos de monetização ainda estavam em fase de experimentação. Enquanto Ragnarök Online adotou o sistema de assinaturas, Grand Chase seguiu o modelo free-to-play, com venda de itens dentro do jogo. Em 2007, a empresa lançou o servidor gratuito Thor para Ragnarök, tornando o jogo ainda mais acessível.

Com o tempo, a Level Up também investiu na distribuição de créditos de jogos, permitindo que usuários sem cartão de crédito internacional pudessem realizar compras de itens dentro dos games. Essa estratégia foi fundamental para popularizar ainda mais seus produtos.

Mudanças e novos rumos

Em 2011, a Level Up foi adquirida pelo grupo sul-africano Naspers e, posteriormente, parte da empresa foi vendida para a Tencent. Com o avanço das plataformas digitais, muitos dos títulos distribuídos pela Level Up passaram a ser operados diretamente por suas desenvolvedoras. Assim, a empresa reformulou sua atuação e, em 2018, passou a focar no mercado B2B, oferecendo serviços de publicação e marketing para outras empresas do setor.

A transição se consolidou em 2022, com a Level Up assumindo um papel de facilitadora para empresas interessadas no mercado latino-americano. Paralelamente, a marca Hype, criada em 2016, se tornou sua principal plataforma de distribuição digital, alcançando mais de 150 milhões de usuários.

O futuro da Level Up

Hoje, a Level Up opera como um grupo empresarial dividido em três frentes: Level Up Brasil, Up’n Beyond e Hype. Além da venda de jogos e créditos, a empresa presta serviços de inteligência de mercado, localização, suporte ao consumidor e infraestrutura de servidores para grandes marcas do setor.

Mesmo após tantas mudanças, a Level Up continua relevante no cenário dos games, ainda que longe dos holofotes do público. Seu legado permanece vivo na memória dos jogadores que viveram a era dourada dos MMORPGs no Brasil.